Multidão ocupa ruas de Correntina em defesa dos rios
Uma multidão foi às ruas de Correntina-BA, na manhã desta sábado (11), para manifestar contra a captação abusiva de água dos rios da região pelo agronegócio. De acordo com informações da Polícia, cerca de 8 mil pessoas foram para o protesto. Mas os organizadores afirmam que o número passa dos 12 mil participantes. Isso demonstra, principalmente, ao governador Rui Costa que os conflitos envolvendo o uso da água não é um ato de um pequeno grupo e sim de amplitude regional, com apoio da população.
Com participação de moradores, ribeirinhos e trabalhadores rurais, vestidos de preto em sinal de luto, a manifestação percorreu cerca de 2 km, saindo do Museu Municipal da História Natural de Correntina até o Ranchão – ponto turístico da cidade que fica no centro, literalmente no meio do rio. Prefeitos, vereadores, deputados, o bispo de Diocesano, Dom João Santos Cardoso e o Juiz federal Leonardo Hernandes Soares participaram da caminhada e manifestaram a preocupação com a preservação ambiental.
As milhares de pessoas carregaram cartazes, faixas e bandeiras com palavras de ordem em defesa do Cerrado e dos rios existentes na região do Território de Identidade da Bacia do Corrente, formada por 11 municípios e banhada pelos rios Arrojado, Guará, Rio do Meio, Santo Antônio, Correntina, Rio Corrente e outros afluentes do Rio São Francisco.
E uma das faixas, a frase era clara: ‘Não somos terroristas, somos defensores dos nossos rios”. Já em outra dizia ‘Se o governo se omite, o povo age”. Um ribeirinho, trabalhador rural da região, levava um baluarte com simbolo do povo geraizeiro com a mensagem: “Nossa vida é no Gerais”. Uma senhora que carregava um pote de barro na cabeça – utensilio da cultura popular utilizado para guardar água – afirmava que “preferia morrer de bala do que de sede”.
O protesto foi organizado pela própria população e demonstrou que o povo está unido em torno da necessidade de mudanças na forma com que a exploração dos recursos hídricos é feita pelas grandes empresas do agronegócio, principalmente, nas terras que ficam nas proximidades do Distrito do Rosário. As outorgas para captação de água dos rios são emitidas pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema), órgão da Secretaria de Meio Ambiente da Bahia.
No caso da fazenda Igarashi, por exemplo, a liberação é para retirada de 106 milhões de litros de água por dia. O que de acordo com informações do Sistema de Água e Esgoto de Correntina (SAAE) abastece toda população da cidade e algumas comunidades rurais por mais de 30 dias, ou seja, um único dia de água para a Igarashi abastece Correntina por um mês.
Entenda o protesto
No último dia 2 de novembro, cerca de 500 pessoas pessoas ocuparam e destruíram máquinas, equipamentos, galpões e todo sistema de captação de água nas fazendas Igarashi e Curitiba, que ficam 129 km do centro da cidade de Correntina. O prejuízo segundo os primeiros levantamentos da agropecuária passa dos R$ 10 milhões.
A invasão virou notícia nacional pelas cenas de destruição que ganham o mundo pelas redes sociais e foi criticada por deputados, senadores e lideranças nacionais ligadas ao agronegócio. Mas ao mesmo tempo, ganhou apoio de entidades da agricultura familiar e de defesa do meio ambiente.
Policia nas ruas
A pedido do governador Rui Costa, o policiamento na cidade foi reforçado e até helicóptero da PM se deslocou para o municipio com objetivo de atuar no caso de novas invasões ou conflitos. A população ficou assustada com a quantidade de viaturas, ônibus e policiais pela ruas da pequena cidade de Correntina, que tem pouco mais de 30 mil habitantes.
A Policia Civil abriu inquérito para identificar os manifestantes e descobrir quem são os financiadores do movimento. Várias pessoas já foram ouvidas pelo delegado Marcelo Calçado e o processo continua em curso.
O movimento é histórico
Os protestos contra a instalação de grandes empresas do agronegócio no município de Correntina é antigo. Desde à ocupação do Cerrado da região do Distrito do Rosário, os ribeirinhos e trabalhadores rurais manifestam contra desmatamentos, captação de água dos rios e outros impactos ambientais causados.
Em 2005, um fazendeiro da região construiu um desfio do rio Arrojado, levando água para um projeto de criação de peixeis. Os ribeirinhos, com apoio da população, ocuparam a fazenda e fecharam o canal aberto. O ato foi notícia nacional, inclusive com reportagem da TV Globo.
Já numa manifestação mais recente, a população foi às ruas em 2015 num grande ato pedindo socorro para os rios. Na época, os organizadores calcularam uma participação de cerca de 5 mil pessoas.