Teatro: uma luz na escuridão

 Teatro: uma luz na escuridão

Na minha primeira experiência com as artes cênicas, a professora Cleise Mendes disse para a turma: “O Teatro entra na vida da gente sem pedir licença e fica”. Quando ouvi, fiquei surpreso e sem entender. Os dias, anos passaram e conheci diferentes palcos e plateias. Aprendi a importância do trabalho coletivo e a disciplina do meu ofício. O teatro entrou na minha vida e permanece.

Em sala de ensaio, tento fazer com que os atores reflitam a importância das artes ainda mais na complexidade dos tempos atuais. É sabido, desde a Grécia antiga, do poder das obras artísticas, tanto é que quando uma pessoa estava doente, o médico receitava um remédio e uma ida ao teatro. Assim como os gregos, acredito que o teatro é uma luz na escuridão, traz reflexão acerca da vida.

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Foto: Cleudir Neves

Faltando pouco mais de uma semana para a estreia do resultado final do I Curso Livre de Teatro de SAMAVI (Santa Maria da Vitória), recebi uma ligação aflita de uma das atrizes relatando que seu colega de cena tinha sido vítima de uma tentativa de homicídio por uma discussão banalíssima, numa festa de rua, em São Félix do Coribe. Esse é o tipo de notícia que demora bastante para ser processada e exige muito da sensibilidade da gente para conduzir os desdobramentos.

Por entender que o Teatro é um fazer coletivo, reuni todo o elenco para encontrarmos uma solução em conjunto. No dia da reunião, soubemos que o estado de saúde do ator tinha melhorado, então para homenageá-lo, decidimos seguir com o espetáculo. E também refletir sobre a violência no final das apresentações com a plateia.

Munidos da nossa arte, aportamos em Serra do Ramalho, São Félix do Coribe e Santa Maria da Vitória para apresentar o espetáculo”Os Pecados de Vênus”, do dramaturgo baiano Elísio Lopes Jr, que conta a história de uma trupe mambembe em busca de um palco para realizar sua encenação. Com música ao vivo, a comédia discute questões como as dificuldades da vida artística, machismo e os sonhos dos personagens. No centros culturais e praças públicas por onde nos apresentamos e passamos o chapéu para angariar verba para o tratamento do nosso colega, tivemos uma ótima receptividade do público.

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Enquanto entrávamos em campo para homenagear nosso colega e levar a nossa luz, ele guerrilhava contra a escuridão. Hoje, ele está bem, de volta à rotina e se prepara para atuar nas próximas apresentações de Os Pecados de Vênus”.

Evoé, vencemos!

Nota: O Curso Livre de Teatro de SAMAVI, que é anual e tem duração de oito meses, nasceu com o objetivo de promovera dinamização da produção teatral da região da Bacia do Rio Corrente e do Velho Chico, através da formação de atores e atrizes. As inscrições para a próxima turma começam em março de 2017.

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