Uma noite chamada Natal

 Uma noite chamada Natal

[Foto: Arquivo pessoal] – Na foto, Glécia, irmã de Novais Neto na Lapinda de 1981, montada tradicionalmente pela família
Em data incerta da década de 1980, quando ainda trabalhava no Banco do Estado da Bahia, na capital baiana, programei passar o Natal em Santa Maria da Vitória ao lado dos meus familiares, parentes e amigos.

Para esta data, em verdade, nunca houve comemoração especial em nossa casa, a não ser esperar por Papai Noel com seus presentes, que não faltava, jamais! E, ainda que trouxesse tão somente uma bola de borracha, caminhãozinho de plástico ou uma boneca, tudo era motivo suficiente para juntarmo-nos aos oito filhos de dona Eli (Tiarica) e seu Nona – e demais vizinhos –, e comemorar o nascimento do Menino Deus com meus eternos amigos meninos deuses!

Não sei por que razão, naquela oportunidade, com viagem planejada com antecedência, meus planos foram por água a baixo e acabei trancafiado num apartamento a contemplar apenas um céu bonito, estrelado e, ao longe, escutando músicas natalinas que me invadiam o Ser num entrando sobrenatural.

Foram momentos rememorativos que me levaram a pegar a caneta e a rabiscar os versos de Uma Noite Chamada Natal e livrar-me, desse modo, de uma dor inexplicável, muito dorida, valendo-me do milagroso fármaco, a poesia:

Quatro formidáveis paredes me detêm,
prendem-me o corpo físico, inerte.
Porém, a vontade incontida de voar
leva-me a mundos imaginários.

Vou até Pasárgada, de Bandeira,
e encontro, sem esforço, a mulher
que quero do sonho não sonhado.

Tudo é tão belo quanto inexplicável,
porque o tempo aparentemente gasto
não coube no decorrido tempo cronográfico.

A viagem é estranhamente bela
porque me deixa nos olhos da vida
um agridoce gosto de saudade.

Volto aos Natais de um sapato de couro, duro,
surrado, debaixo da cama de molas espirais
com colchão de junco, artesanal, xadrez,
cuidadosamente confeccionado,
à espera de uma bola de matéria plástica.

Mas os dias são outros… e bem reais.
E quatro formidáveis paredes de um
apartamento me detêm inapelavelmente,
restando-me degustar os sofridos
versos deste poema que, ainda assim,
ousam libertar-me desta clausura.

Feliz Natal e que o Ano de 2018 seja de aprimoramento e execução de boas ideias para o bem da Humanidade. Respeito ao semelhante e à biodiversidade terrena, e que as diferenças sejam motivo de aproximação, jamais razão para segregar. Afinal, somos todos da mesma Raça Humana. E que assim seja!

(NOVAIS NETO. Meu Lugar é Aqui no Centenário de Santa Maria da Vitória. Salvador: Press Collor, 2009, p. 63. 160p. [Adaptação])

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